10 de julho de 2004

TEMPO DE PARTIR
Ligo a figura de Maria de Lurdes Pintasilgo a umas férias de Verão. Estava calor e havia uma pereira no quintal onde passávamos as tardes regressadas da praia. Falava-se do governo dos "100 dias", da proposta de uma mulher em mudar as coisas num tempo definido. Não resultou lá muito, é claro. Era mulher num país misógino e atávico; queria ser honesta na pequena mercearia dos favores políticos.
Também a sua candidatura às presidenciais foi especial. Um dos candidatos, já não me lembro se Mário Soares, o animal político, se o dramaturgo Freitas do Amaral (que, benza-o Deus, tem vindo a ficar mais sensato, politicamente falando, com o tempo), atacou a sua pretensão à Presidência com um argumento forte: "Uma mulher que não tem família não pode governar um país". Talvez a não tivesse, no sentido mais limitado do termo, mas tinha sem dúvida no mais amplo já que foi apoiada por milhares de pessoas sensatas e inteligentes. E bastou ver esse movimento para perceber que o passado está, por definição, sempre atrás.

maria de lurdes.jpg

Com Eduardo Lourenço (arquivo Instituto Camões).

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